Há 23 anos na profissão, comecei numa época em que a maioria dos coquetéis sem álcool era uma mistureba de sucos de frutas, groselha e leite condensado.
A Nestlé, com o leite condensado Moça, influenciou e mudou a cara da doçaria brasileira e, consequentemente, de algumas bebidas.
Lembro de um livro de receitas chamado “Bateu, tomou”, além da propaganda cheia de jovens e crianças preparando suas bebidas com muitas frutas, gelo e leite condensado Moça, num cenário de praia e festa. Uma das últimas cenas dessa propaganda, era uma moça batendo uma coqueteleira sorrindo e dançando.
O Brasil já tinha a cultura de bares e quiosques de praia que vendiam batidas, que são coquetéis que contém uma base alcoólica, uma fruta e leite condensado. Excluindo a base alcóolica dessas batidas, sobrava um suco denso e doce, que não deixava de ser um coquetel não alcóolico. Ficou tão comum o uso de leite condensado nas receitas de coquetéis que, mesmo que em suas embalagens originais seu volume seja medido em gramas, a coquetelaria transformou a unidade de medida em mililitros (ml)! É comum, até hoje, receitas pedirem “uma dose de leite condensado” (50 ml), por exemplo! Daí o Bartender despeja o conteúdo da lata ou caixinha no dosador e despeja na coqueteleira. E fica aquele crosta de leite condensado colado na parte interna do dosador que, vira e mexe, suja a parte externa da coqueteleira, bancada ou balcão, uma lambança! Sem contar que, quase sempre, a quantidade de leite condensado usada mascara outros ingredientes da receita além de, quando há um componente cítrico nesse coquetel, a bebida talha e a apresentação do coquetel fica horrenda!
De uns anos para cá, graças as melhorias de técnicas na coquetelaria, aliada a criatividade de bartenders, a coquetelaria sem álcool tem apresentado coisas interessantíssimas. Chás, infusões, refrigerantes artesanais, xaropes, purês de frutas, shrubs, vinagres, etc, têm trazido uma riqueza sensorial a coquetéis não alcoólicos que tem feito sucesso com um público cada vez maior e mais exigente!
Coquetel sem álcool pode agradar crianças ou adultos com paladares mais exigentes, desde que se tenha o mesmo cuidado em sua
elaboração, como se tem nos coquetéis alcoólicos.
Eu amo dividir uma Pink Lemonade com minha filha, mas também adoro um Refresco de pepino, limão, xarope de açúcar e água com gás, como esse da foto que ilustra o texto.
Coquetelaria sem álcool pode ser incrível, dona Moça!