Há mais de 20 anos cultivo a vontade de ir a Belém no Pará. Só e oportunamente porque é a capital do Pará!
Estranho é pensar que quando muito menina nem imaginava que a ideia de ir a essa cidade tanto me encantaria tempos depois. Não me lembro de, na escola, os professores mencionarem o Pará com alguma grande deferência. Há estados que são assim tratados com menor ênfase. Não é assim com Bahia, Rio de Janeiro ou Pernambuco…
Ocorre que o Pará fica na região Norte e por lá tem também o estado do Amazonas, que leva o mesmo nome do maior rio do planeta. Quero crer que é por isso que nem se lembravam de nos dizer quando estudantes do primário e do ginásio que o Amazonas é rio de verdade, desses com enorme volume d’água, também no Pará. Até que, pensando bem, deviam sim falar, mas, como a gente só guarda o que nos parece mais fácil, na minha memória não ficou esse registro. Pareceu que nunca havia sido dito.
Tem outras coisas também. Aqui em São Paulo a gente tem “a pretensão de ter certeza” que somos o umbigo do mundo (ou pelo menos do país). Só que o Brasil é bem mais do que o nosso quintal. Prova disso pra nós, os “arrogantes motores da nação”, é que, de vez em quando, vinha o Pará para o noticiário paulista.
Um exemplo foi o período da exploração mineral na Serra Pelada, uma “corrida do ouro” contemporânea no sudeste do estado, quando o lugar se transfigurou num formigueiro humano em busca de riqueza. O garimpo atraiu tanta gente que a montanha sumiu. Hoje, por lá, resta um vale contaminado por mercúrio. Contudo algumas imagens ficam pra sempre como a da chacrete Rita Cadillac que, com certa frequência, ia pra lá a fim de alegrar com seus shows de rebolado e insinuação sexual os 60 mil garimpeiros da Serra Pelada. Desses, uns enricaram. Outros, só perderam. Entre as perdas, a saúde e a família. A chacrete se tornou musa, mas isso é outra história que não cabe aqui.
Depois, tempos depois, veio o massacre em Eldorado do Carajás. quando 17 homens do Movimento Sem Terra foram mortos violentamente pela polícia do estado a mando de fazendeiros. Tristes tempos que, de vez em quando, a gente revive nesse país de um jeito ou de outro para lembrar quem manda e tem direito. E, claro, quem não.
Mas não é do noticiário que vem a minha vontade de conhecer Belém. Primeiro foi de uma moça que conheci há alguns anos num evento no qual trabalhei em Salvador. Ela era da capital paraense, se não me falha a memória, seu nome era Paula. Dividimos um quarto no hotel por questão de economia e solidariedade. Ela me encantou com o que contou sobre sua cidade. Apaixonei-me pela ideia de visitar.
Pra quem não sabe, trabalhei tempos com projetos de infraestrutura, em especial, com Energia. Então, no Pará, estão as usinas hidreléticas (e toda a polêmica de seus efeitos sobre a natureza e o meio ambiente) de Belo Monte, Cachoeira dos Patos, Tucuruí e Tapajós, entre outras que não me lembro agora.
Vão-se anos desde estes episódios e, oras, quando começo estudar gastronomia com mais seriedade e disciplina, logo vem o Pará como referência indelével.
Comida do Pará
Em resumo, como se pode falar de comida brasileira sem se deter ao menos por instantes em como se come no Pará?
Há quem diga que por lá está a genuína formação da culinária brasileira, coisa que eu não comungo e explico o motivo. Há tantos brasis nesse que a gente vive que batizar uma só raiz é pouco para a formação do nosso paladar. Somos o misto do índio, do preto e do branco? Talvez, mas não só. Isso é apenas o resumo e nem sempre se aprende a verdade lendo a apresentação em power point, há mais a ser pesquisado para poder compreender.
Estive em Santarém e Alter do Chão dois anos e pouco atrás, mas em Belém só fiz uma pausa no aeroporto sem descer do avião.
Hoje embarco rumo ao sonho de conhecer a capital do Pará, rapidamente, só um fim de semana. Mas é um desejo de muitos anos que se concretize e isso me deixa feliz e ansiosa.
Quando comecei a pesquisar o que quero fazer nesses poucos dias que estarei por lá, de modo a garantir o melhor aproveitamento da minha viagem, eis que encontro numa matéria do iG Turismo uma pérola escrita por Mario de Andrade, em 1927, sobre Belém. Com ela fecho o texto para poder terminar a arrumação da mala. Quando voltar, fica a promessa de que conto um pouco do que vivi por aquelas terras.
Bom fim de semana. Aproveitem o que escreveu na carta enviada a Manuel Bandeira o mestre modernista Mário de Andrade:
“Manu, estamos numa paradinha pra cortar canarana da margem pros bois dos nossos jantares. Amanhã se chega em Manaus e não sei que mais coisas bonitas enxergarei por este mundo de águas. Porém, me conquistar mesmo, a ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terraça em frente das mangueiras tapando o Teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí. Você que conhece mundo, conhece coisa melhor do que isso, Manu? (…). Belém eu desejo com dor, desejo como se deseja sexualmente, palavra. Não tenho medo de parecer anormal pra você, por isso que conto esta confissão esquisita, mas verdadeira, que faço de vida sexual e vida em Belém. Quero Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou em mim”.
Fonte: Turismo – iG @ http://turismo.ig.com.br/destinos-nacionais/2012-05-27/15-motivos-para-visitar-belem-do-para.html
Créditos das fotos pela ordem em que aparecem:
Rita Cadillac – O Globo
Serra Pelada – Compartilhando.net
Massacre de Carajás – jornal A Verdade
Usina de Belo Monte – Portal Brasil
Mario de Andrade – Tribuna do Norte
Leia também:
- Sobre a culinária brasileira : Virô Brasil!
- Sobre turismo no Pará: Alter do Chão, o Caribe do Brasil