Se hoje em dia ouvir que um vinho americano é melhor que um francês não choca quase ninguém, isso é por causa de um britânico e uma degustação que ele organizou em 1976, mais conhecida como O JULGAMENTO DE PARIS.
Seteven Spurrier – persona non grata na França
Seteven Spurrier foi um britânico que viveu em Paris no final do século XX, onde criou a L’academie du Vin – uma escola de vinhos focada nos expatriados que viviam em Paris na época e a Cave Madeleine, um comércio de vinhos. O britânico, que faleceu em 2021 aos 79 anos, ficou famoso no mundo dos vinhos por organizar uma degustação despretenciosa, segundo ele, mas que colocou o Vale do Napa no mapa do vinho mundial. Todo o Novo Mundo ganhou uma carona nesse evento, que ficou conhecido como O JULGAMENTO DE PARIS.
A degustação que mudou o mundo do vinho
A ideia, segundo conta Spurrier, era chamar a atenção do mundo para a qualidade dos vinhos sendo produzidos na California nos anos 1970. Ele diz nunca ter imaginado que os vinhos seriam considerados melhores que os franceses. Nada era era considerado nem comparável aos franceses, na época. A própria ideia de degustar vinhos californianos pareceu tão desinteressante que nenhum veículo de imprensa se interessou por cobrir o evento. Os únicos registros jornalísticos que temos, por sorte, se devem ao interesse pessoal de George Taber por vinhos e ao dia tranquilo na redação do escritório francês da revista Time naquele 24 de maio de 1976. Taber esceveu um livro sobre o evento, que eu contei em uma série de podcasts.
Os vinhos brancos do Julgamento de Paris
Para a degustação, foram selecionados os melhores vinhos brancos da Borgonha, feitos com a uva Chardonnay. Alguns Grand Crus. Do lado americano, apenas pequenos produtores. Os resultados, pela soma simples dos pontos dados por cada jurado, foram:
1 – Chateau Montelena 1973
3 – Chalone 1974
4 – Spring Mountain 1973
5 – Beaune Clos des Mouches 1973 Drouhin
6 – Freemark Abbey 1972
7 – Batard-Montrachet 1973 Ramonet-Prudhon
8 – Puligny-Montrachet Les Pucelles 1972 Leflaive
9 – Veedercrest 1972
10 – David Bruce 1973
Os vinhos tintos do Julgamento de Paris
Na degustação de tintos, foram selecionados blends de Bordeaux, que consistiam majoritariamente em Cabernet Sauvignon e vinhos da mesma uva produzidos na California. Os resultados foram:
1 – Stag’s Leap Wine Cellars 1973
2 – Château Mouton-Rothschild 1970
3 – Château Montrose 1970
4 – Château Haut-Brion 1970
5 – Ridge Monte Bello 1971
6 – Château Leoville-Las Cases 1971
7 – Heitz Martha’s Vineyard 1970
8 – Clos du Val 1972
9 – Mayacamas 1971
10 – Freemark Abbey 1969
Para entender quem eram esses vinhos, recomendo os podcasts:
- Os vinhos brancos franceses no Julgamento de Paris
- Os vinhos tintos franceses no Julgamento de Paris
O after shock
Os juízes que provaram os vinhos na degustação às cegas eram grandes nomes do vinho e da restauração na França na época. Eles ficaram, a princípio, confusos com o resultado, mas não entenderam de imediato a dimensão que essa degustação tomaria. Odete Khan, uma das juradas, exigiu suas notas de volta quando o resultado da comparação entre vinhos californianos brancos e tintos contra grandes Borgonhas e Bordeaux foi anunciado. Ela foi a primeira pessoa a se dar conta do significado daquela degustação despretenciosa. Steven Spurrier foi considerado persona non grata na França por anos após o evento. Fui literalmente atirado para fora das caves de Ramonet-Prudhon em Chassagne-Montrachet, mas os resultados da degustação permaneceram.”, conta. Um dos argumentos alegava que os vinhos californianos haviam sido favorecidos pois os franceses ainda não estariam em seu ponto máximo; seriam muito jovens. Os vinhos eram todos de safras próximas. Algumas repetições foram feitas em anos seguintes, algumas organizadas pelo próprio Spurrier, sem que houvesse grande alteração nas ordens de preferências dos vinhos. O resumo da história é esse. Se quiser conhecer mais profundamente – com direito a intrigas e detalhes picantes – confira o podcast sobre a montagem do evento e impactos do seu resultado aqui.
O Julgamento de Berlim
O Julgamento de Paris inspirou Chadwick a fazer uma degustação semelhante comparando grandes vinhos chilenos a franceses e italianos, muitos deles rankeados com 100 RP. Essa degustação ficou conhecida como O JULGAMENTO DE BERLIM. Confira no documentário abaixo: